Universidade, um espaço para novas idéias?

Ao sair o resultado positivo do vestibular, parece que portas de um mundo novo se abrem: pessoas diferentes, ambiente diferente, aulas diferentes. Todo aluno novo sonha com aquele momento desde os períodos conturbados da escola, em que havia apenas professores quadrados, regras opressoras, pressão para passar em provas e alunos passivos. A entrada na Universidade, assim, representa um sonho que se torna realidade e a oportunidade de crescer construindo em conjunto com os outros estudantes da Universidade. Entretanto, logo nos primeiros semestres chegam as decepções: algumas aulas parecidas com as do Ensino Médio, a má qualidade das salas de aulas, entre outros aspectos. E depois, descobrimos que esses fatores estão longe de ser os piores.

A Universidade poderia ser um espaço de discussão, em que surgiram novas idéias para um mundo melhor. Entretanto, para que exista debate, é necessário que os lados que possuam opiniões distintas saibam se respeitar. E ainda é um dos grandes problemas da humanidade. Nota-se que grande parte das pessoas entra em um debate não para aprender, ou se questionar, e sim para defender um determinado ponto ou uma opinião, fechando sua mente para os argumentos contrários, sem ao menos admitir que afinal todos nós podemos estar errados. Um das críticas que Platão fazia aos sofistas essa era falta de compromisso com a verdade e o discurso. Essa falta de questionamento e de substância. Os sofistas estavam no espaço público apenas para fazer prevalecer uma opinião por meio da habilidade da retórica. E isso é recorrente até os dias atuais. Existem pessoas que possuem o dom da palavra e existem aqueles que o possuem e o utilizam apenas para fazer prevalecer uma opinião. E ainda existem aquelas que estão tão imersas na Ética da Convicção de Weber[1] que se trancam e embora finjam que escutam, não considera os argumentos contrários, por achar que a própria opinião é a que conta.

O projeto de Darcy Ribeiro para a Universidade de Brasília[2] apresentava um espaço para pensar um novo mundo. Mas é difícil surgir novas idéias em um ambiente em que as diversas arestas não se cruzam. Democracia não é sinônimo de consenso. Pelo contrário, a democracia floresce em espaços de opiniões divergentes, através do debate. No entanto, é impossível existir esse debate quando as partes não estão dispostas a escutar, ou quando elas estão ali apenas para defender uma opinião, sem se auto-questionar. E esse é um tipo de comportamento que se manifesta implícito, como uma erva daninha que ninguém vê e no final destrói todo o quintal.

 

Texto de Nayara Macedo


[1] “Quando as conseqüências de um ato praticado por pura convicção se revelam desagradáveis. O partidário de tal ética não atribuirá responsabilidade ao agente, mas ao mundo, à tolice dos homens ou À vontade de Deus, que assim criou os homens.” (WEBER,  1968: 113). Assim, a ética da convicção é vista como algo que visa aos fins.

[2]Comecei então a argüir sobre a necessidade de criar também uma universidade e sobre a oportunidade extraordinária que ela nos daria de rever a estrutura obsoleta das universidades brasileiras, criando uma universidade capaz de dominar todo o saber humano e de colocá-lo a serviço do desenvolvimento nacional” (Extraído de: http://www.fundar.org.br/darcy_educa_unb_txtdarcyfull.htm)

 

Um comentário em “Universidade, um espaço para novas idéias?

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  1. Interessante, moça Nay’. Mas, num debate metodológico, é impressionante como os dizeres de Robert Merton, a respeito dos imperativos científicos, a aceitação de novas ideias por parte da comunidade acadêmica ou científica é bastante conflituosa. Então, esse respeito das ideias individuais é um pouco complicado. Somente para lembrar do ceticismo, seja organizado, que esse autor busca priorizar atenção. Pode-se dizer, também, que por isso a ideia dos debates transdisciplinar e multidisciplinar , de maior diálogo entre as opiniões, é realmente algo bem difícil de ocorrer em harmonia. Os rigores científicos são também, em minha opinião, um fator que também contribui para essa dificuldade, dessa forma.

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